À Espreita Entrevista: Cidinha Lima

Professora e poetisa, Cidinha Lima nos conta um pouco sobre sua trajetória, seus planos para o futuro pós-pandemia e os desafios da profissão.

Hoje a entrevistada do À Espreita é a nossa querida Cidinha Lima, professora, licenciada em Letras pela UCDB e poetisa, publicada em diversas antologias.

Evan – Olá Cidinha, é uma alegria para nós poder conversar um pouco contigo e poder falar um pouco sobre sua história, sobre educação, literatura e poesia. Você é formada em letras desde 1997 e é professora de português na rede pública em Campo Grande. Imagino que seu amor pelas letras e pela língua portuguesa vem desde cedo. Conte para nós um pouquinho sobre quando você descobriu isso e como foi a trajetória até se tornar professora?

Cidinha – Primeiramente, agradeço essa oportunidade que estou tendo de falar um pouco de minha trajetória. Sou-lhe grata. Desde criança, sempre gostei de estudar. Amava ouvir histórias de meus pais, falando de suas histórias quando vieram do nordeste, e depois a vinda deles para Mato Grosso do Sul. Sempre fui muito apaixonada pelos livros, logo aprendi a ler as histórias e livros de poemas. Adorava folhear os livros de gravuras e usava a imaginação para rabiscar os versos. Lembro de minha primeira redação na 3ª serie, tinha 9 anos, e também já queria ser professora. Era para escrever sobre meu pai. Escrevi um texto bonito e tirei um dez. A partir daí comecei a escrever. Terminei o ginásio em Corumbá-MS. Em 1985 , vim para a Capital fazer o segundo grau. Escrevia em meus cadernos. Até hoje gosto de escrever pois, a caneta e lápis sempre me acompanham. Entrei no Instituto, colégio de freiras, onde por alguns anos passei, trabalhando em obras missionárias, acompanhando jovens, crianças e adultos, na catequese, liturgia e outros. Desligando da Congregação anos mais tarde, iniciei a carreira do Magistério muito cedo e sempre amei esse mundo juvenil. Terminei a Faculdade de Letras, continuei exercendo o magistério, fiz meu Concurso no Estado, assumi em 2002. Sempre sonhando com meus escritos.

Evan – Pela sua vivência na escola pública, quais são os maiores desafios que os alunos e professores têm enfrentado durante a pandemia?

Cidinha – É um período difícil, todos tivemos que nos reinventar de alguma forma, encontrar formas e maneiras para estar próximos, apesar do distanciamento social. Aperfeiçoar estratégias de como chegar até o aluno de forma clara e objetiva. Posso dizer que estamos aprendendo muito com tudo isso. Não é muito fácil, ninguém estava preparado para isso, e como nem todos tem acesso às tecnologias, isso também dificulta o ensino e a aprendizagem. Acreditamos que tudo vai passar logo.

Evan – Quando foi que você decidiu levar a poesia a sério e tornar as suas poesias conhecidas?

Cidinha – Sempre tive o sonho de deixar-se conhecer, mas a timidez me acompanhou por anos. Muitos amigos e amigas que liam meus escritos, sempre me incentivam para publicar. A ideia foi amadurecendo e através de meu irmão, Jorge Lima, que também é poeta e escritor. Ele me apresentou o poeta Jesus Hernandez Martim. Ele estava escrevendo a História de Corumbá, um livro com vários autores de Corumbá e me convidou a publicar com dois poemas e, então, aceitei o convite. Escrevi Nossa Amizade e Manhãs e Noites, foi lançado em 2002. A partir daí, meu irmão, sempre falando e incentivando sobre participar do Grupo ALEC em Corumbá. Fui ficando mais interessada e entusiasmada em querer conhecer e participar. Ele me apresentou o poeta Benedito C. G. de Lima, onde com muita alegria fui recebida e tenho uma gratidão enorme em poder participar desse movimento literário.

Evan – Ficamos conhecendo um pouco do projeto Passa na Praça que a Arte te Abraça quando entrevistamos o poeta pantaneiro Benedito C. G. de Lima. Conte para nós um pouquinho mais sobre este projeto inspirador e como é sua participação?

Cidinha – Bem, eu participo faz quase 5 anos. É uma riqueza enorme, uma oportunidade de estar com os artistas, os poetas e as pessoas, na praça. Levar nossos poemas, falar com o público, mostrar a nossa cultura. É realizado sempre aos sábados, na parte da manhã. Eu só participo quando estou na cidade, no período de férias e feriados, por morar longe. É um encontro maravilhoso, alunos também visitam a praça, com exposição dos poemas.

Projeto Passa na Praça que a Arte te Abraça

Evan – Você tem poesias publicadas em diversas antologias. Conte um pouquinho para nós sobre suas poesias, suas inspirações, que tipo de temas você aborda ao compô-las?

Cidinha – Amo escrever. Meus textos são variados. Gosto muito do romântico, escrevo algumas reflexões sobre a vida, o ser e também de cunho religioso, falo sobre amizade e amor. Acredito na palavra que pode tocar a alma. Quanto a inspiração? Deixo fluir, e assim vou colocando no papel aquilo que consigo sentir e viver. Busco na natureza, no ser humano, na realidade, em Deus, minhas inspirações.

Evan – Você tem um projeto de divulgação dos poetas pantaneiros. Como é este projeto e como as pessoas podem conhece-lo ou até mesmo participar?

Cidinha – Iniciei na escola onde trabalho, sobre leitura, o ano passado. Este ano, devido a pandemia ficou difícil dar continuidade. Foi uma experiência para ajudar os alunos a despertarem o sentimento pela magia da palavra pois, observei que muitos têm vergonha dos próprios textos que escrevem. Primeiro leram dez autores pantaneiros, vida e obras dos mesmos e depois solicitei que produzissem seus próprios poemas. Depois foram digitalizados e feitos em forma de livros cartonera. Capas confeccionadas a mão, de papelão. Fizemos uma exposição na própria escola. Pretendo retomá-lo em breve, assim quando tudo passar.

Evan – Quais são seus futuros projetos para um futuro próximo? O que podemos esperar da Cidinha Lima em breve?

Cidinha – Estou trabalhando no livro de poesias de minha autoria, será lançado em breve. E pretendo lançar outro, em parceria com meu irmão, Jorge Lima. Um sonho de muito tempo.

Evan – O Brasil ainda é um país que pouco valoriza o hábito de ler. A pequena parcela de ávidos leitores brasileiros encontra dificuldade em conhecer novos autores nacionais visto que as prateleiras das livrarias se encontram abarrotadas de livros de autores estrangeiros. Alguns de qualidade até bem duvidosa. Você concorda com essa afirmação? Na sua opinião porque isto acontece?

Cidinha – Há pouco investimento na educação. Não se preocupam em oferecer um ensino de qualidade, não há incentivo à leitura. Acredito que a falta de cultura em relação a ler é grande, por isso o interesse é pouco. Publicar um livro não é barato. Temos autores brasileiros fantásticos, porém desconhecidos ainda por muitos.

Evan – Quais autores te influenciaram? Que tipo de livro você costuma ler? Tem alguma indicação para nós? Algum livro que tenha lhe surpreendido?

Cidinha – São muitos que amo. Ressalto Fernando Pessoa, Cora Coralina, Clarice Lispector, Adélia Prado, Manoel de Barros, Raquel Naveira, entre outros. Leio sempre livros que ajudam a melhorar a vida, a espiritualidade. A Bíblia sempre me surpreende.

Evan – Que mensagem ou conselho você quer deixar para seus leitores, futuros leitores e colegas de escrita em todo o Brasil?

Cidinha – A vida é breve. Aproveitar cada segundo faz toda a diferença. Ler é nutrir-se não só de conhecimentos, mas alimento da alma. Vai minha saudação poética a todos vocês. Muito obrigada! Agradeço essa oportunidade que me ofereceu em partilhar um pouco de minha história. Grata por tudo. Deus abençoes seu trabalho.

Evan – Nós é que agradecemos pela oportunidade, professora Cidinha. Desejamos-lhe todo o sucesso com seu livro de poesias e em tudo que fizer.

Esse foi nosso bate-papo com a professora e poetisa Cidinha Lima. Acreditamos que a professora Cidinha representa milhares de profissionais do ensino em todo o país, que mesmo em meio a tantas adversidades, busca dar o melhor de si em favor da cultura, do ensino, da intelectualidade e do senso crítico de cada criança e jovem.

Encerramos a entrevista de hoje com uma poesia de autoria de Cidinha Lima:

Amar

Um adorar prateado

Sem manchas e sem medo

Compreender um mistério

Adormecer na fantasia

Vida que se inicia

Um aroma inebriante

Em êxtase envolvente

Um cantar melancólico

Mas o que é amar?

Desejar, delirar, esperar?

Tentativas em vão

O segredo está no coração

Coração marcado para sempre

Um querer comprometer

Apaixonar sem morrer

Apenas viver com prazer

Amar um adorar prateado

Num ritmo acelerado

Canções do ir e vir

Como então definir?

Amar compromisso a dois

Sem receios, nem mesmo para depois

Apenas contemplar nossa vida

Na graça e sonho de amar sem limites.

Cidinha Lima.

Publicado por Evan Klug

Escritor, Redator, Roteirista, Produtor de Conteúdo para Web e Analista de Qualidade. Amante da literatura, super-heróis, boa comida e o bom e velho rock n' Roll.

2 comentários em “À Espreita Entrevista: Cidinha Lima

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