Esforços pela Cultura, essa é a vida da querida Mariana Duarte. Conheça-a melhor na entrevista que ela concedeu para o À Espreita.
Mariane Duarte é Pedagoga, pós-graduada em Gestão Escolar. Atualmente é Coordenadora de um CEMEI na Rede Pública de Ensino de Corumbá – MS.
Evan – Como uma profissional do ensino é muito comum que esteja familiarizada com a literatura, mas nos diga, como foi que a literatura entrou na sua vida?
Mariana – Meus pais foram e são meus grandes incentivadores. Eles sempre acreditaram na educação como única possibilidade de transformação em nossas vidas. É por isso que escolhi ser educadora. De certa forma, o gosto pela literatura veio daí. Sempre gostei muito de ler, acredito que em cada fase da vida temos um estilo de literatura com que nos identificamos. Li muito gibi, livros de história infantil, inclusive “Chapeuzinho Amarelo” de Chico Buarque era o meu favorito na infância. Na adolescência lia muita poesia, Machado de Assis e os clássicos. Durante e após a faculdade os romances tinham um lugar especial na prateleira e a leitura voltada, também, para os livros na área da educação. Ser mediadora de um clube de leitura – Leia Mulheres Corumbá — também faz com que esse amor pela literatura seja cada dia mais importante.
Evan – Estando diretamente ligada aos sistemas de ensino, qual a sua visão sobre as dificuldades de alunos e professores durante este período de pandemia e o que podemos tirar de lição disso tudo?

Mariana – Acredito que nenhum(a) professor(a) já havia imaginado que poderia dar aulas por tanto tempo sem estar dentro da sala de aula. Com certeza foi e continua sendo um desafio muito grande, não somente para os professores, mas para as famílias e crianças. Uma dificuldade que interfere diretamente no acesso à educação, eu acredito que seja o acesso à internet que é nosso maior meio de comunicação nesse momento. Muitas famílias não possuem acesso à internet e às vezes nem sequer têm um celular ou um computador, o que em tempos de pandemia é muito importante. Mas seguimos tentando fazer o melhor possível para que uma educação de qualidade e igualitária, alcance cada vez mais crianças. A parceria com as famílias faz toda diferença.
Evan – Quais são seus autores favoritos? Algum que tenha lhe influenciado como escritora?
Mariana – Minha autora favorita é uma mulher, negra, periférica que também acreditava que a educação é transformadora e emancipatória, é uma referência e um grande exemplo para todos nós, o nome dela é Maria Carolina de Jesus.
Evan – Opa! Vamos pesquisar para conhecer essa grande escritora melhor. Fica aí a dica! Fale-nos agora um pouco sobre sua trajetória na literatura, obras publicadas, participações, etc.

Mariana – Vou dizer minha trajetória na cultura, pois desde sempre essa área me fascina. Sempre procurei participar de eventos ligados ao teatro, poesia, fotografia e toda e qualquer manifestação artística, seja estudando, participando de cursos, oficinas ou Workshop. Como já falei acima sou professora, pedagoga, da educação infantil, atualmente estou coordenadora de um Cemei (Centro de Educação Infantil), da rede pública de ensino de Corumbá. Tenho cursos na área de Música e movimento e contação de histórias. Dentro da minha profissão também sempre procurei possibilitar experiências para que os alunos tivessem contato com a literatura e se apaixonassem também pelo universo dos livros, das histórias, da poesia, do teatro etc. Sou mediadora de um clube de leituras, o Leia Mulheres Corumbá, juntamente com a minha parceira querida a Caroline Leandro. Em 2019 participei de um bate papo na FLIB BONITO falando sobre clubes de leitura e o espaço que a literatura feminina vem ganhando. Também em 2019 com o poeta Benedito C. G. Lima ajudei a organizar o Café Cultural e fui Destaque Cultural 2019, pela atuação e participação em projetos que fomentavam a cultura corumbaense. Em 2020 participei de um bate papo na temporada de inverno da Casa Dr. Gabi para falar sobre clubes de leitura antes e pós pandemia, com o clube: Leituras Di Macondo que é também uma referência de Clube de Leitura na cidade de Corumbá. Participei do projeto “Mulheres de Sucesso”, organizado pelo professor Augusto Samaniego. Sou co-fundadora do Coletivo Feminista Casa Azul, que tem objetivo de trabalhar em prol da defesa dos direitos da mulher. E atualmente conselheira municipal de cultura de Corumbá, gestão 2021-2023.
Evan – Uau! Com certeza você tem empreendido muito do seu tempo na difusão da cultura. Você citou o clube de leitura do qual faz parte mais de uma vez e gostaríamos de saber um pouco mais sobre o clube e sua atuação nele.

Mariana – Como já citei (risos), sou mediadora desse clube incrível que é o Leia Mulheres Corumbá juntamente com a Caroline Leandro. O Leia Mulheres teve inicio em 2014 quando a escritora Joanna Walsh propôs o projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014) que consistia basicamente em ler mais escritoras mulheres. O mercado editorial ainda é muito restrito e as mulheres não possuem tanta visibilidade, por isso a importância desse projeto. Em 2015, Juliana Gomes convidou as amigas Juliana Leuenroth e Michelle Henriques para transformarem a ideia de Joanna Walsh em algo presencial em livrarias e espaços culturais no Brasil. Sendo um convite à leitura de obras escritas por mulheres, de clássicas a contemporâneas. Logo a ideia se espalhou e hoje existem vários Leias mulheres espalhados pelo país. Em Corumbá, o Leia Mulheres começou sua atuação em fevereiro de 2019 após a Carol entrar em contato com as responsáveis pelo Leia Mulheres Nacional. O objetivo de ter um grupo voltado para a literatura feminina se deu pela necessidade de termos mais movimentos como esse em nossa cidade. As reuniões acontecem 1 vez por mês para conversarmos sobre livros de autoria feminina, inclusive essa é a única regra do clube, lemos apenas autoras mulheres. Os livros são escolhidos previamente pelo grupo, como sabemos, não temos livraria em Corumbá, então precisamos organizar as compras dos livros pela internet, para que assim todos possam se organizar para a leitura. O grupo é aberto para todos que se interessem por literatura, independente do gênero ou idade. Não temos um espaço físico fixo, as reuniões, inicialmente, aconteciam na Escola Curumim, em seguida o prédio do Sesc Corumbá passou a receber com muito carinho o nosso clube, mas em decorrência do encerramento da atividades da instituição na cidade e da pandemia do COVID-19, as reuniões passaram para o formato online, inclusive fica o convite para participar das nossas reuniões e compartilhar momentos de muita troca e conexão.
Evan – Legal, vai ser uma honra! Agora conte para nós sobre outros projetos que acontecem na sua região que é o Café Literário e o Café Cultural? Qual o seu papel em cada um deles?

Mariana – O Café Cultural e o Café Literário são projetos que têm o objetivo de reunir artistas e pessoas que tem amor pela arte e literatura. O que difere um do outro é apenas o formato, já que o Café Cultural acontece presencialmente na escola Curumim (antes da Pandemia), e o café Literário acontece no formato online (durante a pandemia). Em ambos, poetas, músicos, artistas plásticos, autores em geral, tem espaço para compartilhar com muita generosidade sua arte. Momentos únicos e revigorantes para cada participante. A minha contribuição é como organizadora, a convite do querido poeta Benedito C. G. Lima. Nossa empreitada é organizar o Café Literário (formato online), convidar os artistas, fazer a divulgação e não deixar esse momento tão lindo e importante mesmo em tempos tão difíceis.
Evan – Muito legal, mesmo com a pandemia, não deixar esses eventos, tão importantes, morrerem. Ano que vem, o Grupo ALEC, se não me falha a memória, completa 50 anos. Em todos esses anos o grupo teve papel fundamental na disseminação cultural na região pantaneira. Pela sua experiência e participação, quais foram as maiores conquistas do Grupo ALEC?

Mariana – Como você mesmo disse o grupo ALEC é fundamental e muito importante para a nossa região, reúne artistas dos mais diferentes grupos. Descobre novos artistas e sem dúvidas o projeto “Passa na praça que a arte te abraça”, tem um espaço especial em nossos corações e memórias. Levar a arte, a literatura gratuitamente para tantas pessoas é algo maravilhoso. Vida longa ao Grupo ALEC!
Evan – Algum projeto literário em andamento ou para um futuro próximo? Alguma coisa que possa nos adiantar?
Mariana – Voltar a reunir artistas corumbaenses e possibilitar movimentos culturais. Devido a Pandemia encontros presenciais se tornam impossíveis, mas acredito que mesmo encontros remotos terão emoções que deixarão a nossa alma aquecida. Estou também como Conselheira Cultural de Corumbá e pretendo juntamente com os outros conselheiros trabalhar para difundir a cultura e literatura corumbaense. E quem sabe algo voltado para crianças, para a literatura infantil.
Evan – Algum sonho que ainda não realizou? Pode contar pra gente qual é?
Mariana – Vários. O que seria da nossa vida se não fossem os sonhos, os projetos e o desejo de sempre fazer mais. Acredito que me aventurar no mundo da escrita.
Evan – Quem sabe um dia não estaremos discutindo Mariana Duarte no Leia Mulheres? Que mensagem você deixaria para os amantes da arte, leitores e companheiros de escritas, nestes tempos tão difíceis.
Mariana – Eu costumo dizer que a literatura é o que mantem esperança em tempos tão difíceis, e tenho certeza que assim como a literatura, toda e qualquer forma de manifestação artística são os alimentos necessários para a nossa alma. Sejamos resistentes e perseverantes. Vamos continuar defendendo a democratização da leitura através do fácil acesso aos livros. Vamos continuar defendendo artistas, projetos e movimentos culturais.
Evan – Mariana, foi um grande prazer conversar contigo e lhe conhecer melhor. Espero que os nossos leitores tenham curtido tanto esse bate-papo assim com eu. Te desejamos todo o sucesso nos seus esforços em prol da literatura e em tudo que fizer. Grande abraço da Equipe À Espreita.