A entrevistada de hoje é a Socióloga, Pesquisadora, Produtora Cultural e Escritora: Wanessa Pereira Rodrigues. Wanessa é graduada em Ciências Sociais pela UFMS, possui especialização em Educação e Patrimônio Cultural e Artístico pela Universidade de Brasília. Atualmente é Mestranda em Estudos Fronteiriços na UFMS.
Evan – Primeiramente é grande prazer conversar contigo, Wanessa e obrigado pela sua disponibilidade. Você é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e tem especializações na área cultural e educacional. Você trabalha com cultura, isso é fabuloso! O que te levou para este caminho? Você sempre quis trabalhar no ramo cultural?
Wanessa – A cultura sempre esteve presente na minha vida, estudei minha vida inteira no Colégio Salesiano Santa Teresa e o contato com a cultura foi desde a infância nos teatros que apresentávamos, nos festivais estudantis, nas descidas para Banhar São João conduzidas pela professora de artes Berenice, nas aulas de literatura e entre outros. Também sempre admirei a beleza dos nossos imóveis da área central e Casario do Porto. Era um desejo de infância estudar sobre eles. Durante a graduação tive contato com a disciplina de antropologia, nela consegui entender a dimensão da cultura da minha cidade, Corumbá. Após formada, não demorou muito para eu conseguir uma colocação na área da cultura, podendo, a partir de então, realizar ações e projetos com a comunidade cultural de Corumbá e Ladário. E o mais importante de tudo, trabalhar com cultura me proporcionou conhecer pessoas inspiradoras e com histórias de vida sensacionais; e também fazer grandes amizades.
Evan – Hoje você tem uma empresa que presta consultorias no ramo cultural. Conte-nos um pouco mais sobre sua área de atuação.
Wanessa – Após eu ter trabalhado com Gestão Pública de Cultura em Ladário, no ano de 2017, decidi me arriscar em trabalhar de maneira independente, pois estar como gestora de cultura, me proporcionou muito aprendizado e experiências que poderiam ser potencializados. Nesses 4 anos de existência colhi muitos frutos de parcerias, produzi eventos culturais e desenvolvi projetos. Mas não é fácil, infelizmente no Brasil viver exclusivamente da cultura não é uma regra, temos que ter outra ocupação que seja rentável mensalmente. Enfrentei barreiras financeiras, as fontes de financiamento da cultura estão cada vez mais escassas, assim como o pouco investimento da iniciativa privada na comunidade cultural da região. Mas conquistas foram alcançadas nesses anos da Empresa Saber Cultura, prestei consultoria para 08 artistas da região e conseguimos prêmio para 07 deles, sendo reconhecidos como mestres da cultura popular brasileira pelo extinto Ministério da Cultura. Produzi o “Encontro dos Mestres da Cultura Popular de Corumbá e Ladário”, levamos essa ação de difusão a Universidade Federal e no Festival América do Sul 2019. Realizei 02 projetos voltados ao Patrimônio Cultural, dentre eles o Patrimônio Vivo: a troca de saberes, atuamos em 06 instituições de ensino de Corumbá com Oficinas de Educação Patrimonial e Elaboração do Mapa Afetivo, neste os alunos nos apontaram elementos culturais existentes em sua comunidade que eles consideram patrimônio.
Evan – Tem uma coisa que me deixou curioso para saber mais e… seria legal também para que os nossos leitores pudessem conhecer também. O que é o Circuito Imigrante, GT Cultura e qual sua atuação nele?
Wanessa – O Circuito de Apoio ao Imigrante é um coletivo, criado em 2015 e que reúne órgãos que atuam diretamente com imigrantes, refugiados e apátridas em Corumbá, MS, Brasil. Faço parte do GT Cultura, participo de diversas atividades culturais realizadas pelo Circuito Imigrante. Eles têm o intuito de mostrar a fronteira, não apenas como uma mera marcação geográfica, mas também como um espaço de trocas culturais, vivências, como um lugar de possibilidades. Uma das ações foi a realização de algumas edições da Feira do Imigrante. A Circuito Imigrante tem como co-fundador o professor da UFMS, Dr. Marco Aurélio Machado de Oliveira, que coordenou o Circuito durante vários anos. E hoje temos a frente da coordenação a Assistente Social e mestre em Estudos Fronteiriços, Renata Papa.

Evan – Você está começando a dar seus primeiros passos, na literatura, como autora. O que você mais gosta de escrever?
Wanessa – Até o momento minha experiência foi em pesquisar e escrever sobre Corumbá, nos campos da cultura e patrimônio. Atualmente estou na fase de conclusão da minha dissertação sobre patrimônio cultural, fronteira e imigração na perspectiva da cultura.

Evan – Não é difícil de imaginar que alguém que sempre esteve em contato com o lado cultural do mundo desenvolva uma certa veia artística também. Mas, por que as letras?
Wanessa – Como eu disse, estou iniciando no campo da escrita e já percebo como é libertador poder expressar suas ideias e pensamentos.
Evan – Agora como leitora… o que a Wanessa gosta de ler? Quais são seus livros ou autores favoritos?
Wanessa – Eu leio de tudo um pouco, nos últimos anos além dos livros de sociologia e antropologia, devido a minha pesquisa do mestrado, tenho voltado minha leitura para alguns autores corumbaenses, com os quais tive a oportunidade de estabelecer laços de amizade e trabalho: Marlene Mourão, Nelson Urt, Benedito C. G. Lima, Marco Aurélio Machado de Oliveira.
Evan – Se você pudesse ter uma conversa, com qualquer personalidade literária, viva ou morta, com quem seria? Por que?
Wanessa – Hannah Arendt, ela foi uma grande intérprete do século 20 e uma das maiores pensadoras daquele século. Acredito que ela poderia me ajudar a compreender alguns fenômenos que o Brasil vive de 2018 até agora na pandemia, inclusive de entender como tantos atos desumanos praticados contra a população brasileira estão sendo banalizados e o do sofrimento do outro durante a pandemia, não incomodar as pessoas, que conduzem suas vidas como se estivesse tudo bem, desde que o momento que vivemos não as afete. Pois a sensibilidade das pessoas parece estar focada na individualidade e desconectada do sentido de coletividade e humanidade.
Evan – Estes são realmente tempos difíceis e a capacidade de empatia pelo outro parece mesmo estar declinando. No seu ponto de vista, qual o maior desafio que os trabalhadores da cultura brasileiros enfrentam?
Wanessa – Mecanismos que os auxiliem a se profissionalizarem, saírem da informalidade, condições que proporcione segurança financeira aos trabalhadores da cultura e que nos permitam dedicação exclusiva a nossa atividade cultural sem necessidade de termos outras atividades para nos sustentar. É preciso entender que a cultura possui uma cadeia produtiva, que movimenta a economia e que pode sim ser usada como vetor de desenvolvimento e superação de crises econômicas. A exemplo de alguns países como Inglaterra e Nova Zelândia na crise de 2008, entenderam a importância da cultura na sua dimensão econômica e investiram e valorizaram o setor cultural, especificamente na economia criativa voltada a vários segmentos e que valoriza o capital intelectual do indivíduo. Se fizermos uma pesquisa rápida sobre o valor que a cultura contribuiu para p PIB brasileiro, veremos que é significativo o valor. “As atividades culturais e criativas geram 2,64% do PIB brasileiro e são responsáveis por mais de um milhão de empregos formais diretos, segundo estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), com base em dados do IBGE. Há no setor cerca de 250 mil empresas e instituições que as políticas culturais estejam sendo desmontadas a cada dia” (fonte: Secretaria Especial de Cultura).
Evan – Isso fica bem evidente quando percebemos que dificilmente um escritor brasileiro vive de ser escritor. Falta consumidores de cultura, infelizmente, também, além dos problemas que você já descreveu. Conte-nos um pouco sobre seus projetos literários para o futuro. Algum já em andamento?

Wanessa – Como eu disse, no momento, estou na fase de conclusão da minha dissertação e os esforços estão canalizados para ela, talvez possa desdobrar alguns pontos dela posteriormente com a pesquisa sobre cultura e patrimônio cultural.
Evan – Com o advento da pandemia mundial, uma das primeiras coisas que foram sacrificadas, por intermédio das restrições, foram as atividades culturais. Qual a sua perspectiva para o futuro da cultura no Brasil e no mundo e que mensagem você deixaria para todos os amantes de toda e qualquer tipo de manifestação cultural, nestes tempos difíceis?
Wanessa – Sempre que há uma crise econômica um dos primeiros setores a serem afetados é o da Cultura, como se ela não fizesse parte das demais áreas da vida do ser humano e só importassem a economia, obras e saúde. Não quero dizer que estas não sejam importantes, digo apenas que a cultura deve estar no mesmo nível de prioridade delas. No contexto dessa pandemia, os problemas sociais que vivemos no Brasil vieram à tona e estão escancarados, as desigualdades sociais acentuadas, enquanto agentes públicos gastam milhões com dinheiro público para “atender a luxos para a alimentação deles”, famílias não tem arroz e feijão para comer e passam fome, carne nem se fala, pois se tornou artigo de luxo e ausente no prato dos brasileiros. Enquanto pessoas morrem em hospitais por falta de leitos, alguns agentes políticos zombam da gravidade dessa crise de saúde pública mundial. Quando a pandemia der uma trégua viveremos num contexto social e econômico semelhante ao do fim de uma guerra, infelizmente não sabemos o que nos espera, por conta desse descaso com o povo e desinteresse em solucionar essa crise de saúde que estamos mergulhados… Enfim, a cultura já vinha sofrendo um desmonte desde 2018 dentro das instituições culturais do governo federal, cortes de recursos das poucas fontes de financiamento de editais, ataques a Lei Rouanet, como se esta fosse ruim e não as pessoas que usam esse recurso para cometer irregularidades. Mas trabalhar com cultura sempre foi significado de luta, resistência e busca por direitos, desejo a todos os trabalhadores brasileiros do setor cultural FÉ em dias melhores.
Evan – Foi ótimo conversar com você Wanessa, muito obrigado pelo seu tempo e pelas explanações. Sem dúvidas, foi uma conversa muito instrutiva. Desejamos tudo de melhor para você e seu trabalho, com muito sucesso e que possamos, em breve, estar voltando à uma normalidade, se é que poderemos chamar de normal, ou de… o novo normal, mas com mais tranquilidade para podermos tocar nossos projetos.